Psicóloga clínica e investigadora no Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia), Malin Bergström tem mais de 20 anos de experiência na mediação em separações.
Há cinco anos que estuda os filhos dos casais com guarda partilhada e diz que estão melhores do que os que vivem apenas com um dos pais. Tem vindo a diminuir a idade das crianças que investiga e prepara-se para trabalhar com os bebés. Esteve em Portugal para a VI Conferência Internacional Igualdade Parental, Século XXI, que decorreu em Santa Maria da Feira.
Qual é o país com mais casais separados que optaram pela guarda partilhada?
É a Suécia. Praticamente metade dos casais separados opta pela guarda partilhada. Nos anos 80 do século passado, a percentagem das crianças que viviam em duas casas era de 2%, em 2013 estava próximo dos 40% e hoje já ultrapassou. No estudo que fizemos com meninos entre os 3 e os 5 anos, verificámos que a residência alternada duplicou. Antes da alteração à lei, em 1998, os filhos eram entregues às mães, mesmo quando estas tinham problemas, nomeadamente mentais. Mas depois dessa mudança, as situações de residência alternada aumentaram significativamente.
Os juízes mudaram rapidamente de atitude? Em Portugal, essa decisão passa por um juiz e , em geral, basta um pai não concordar para não haver residência alternada.
A Suécia é especial porque apenas 2% dos divórcios passam pelos tribunais. Os pais decidem o que fazer em relação aos filhos, encontram eles próprios as soluções após a separação. E a guarda partilhada é muito comum. Entrevistámos pais de crianças com 4 anos ou menos e que nos diziam: "Porque é que tem de ficar apenas com um de nós quando pode ficar com os dois?"
Não existe, também, uma razão económica? Com a guarda partilhada nenhum dos pais tem de pagar uma pensão...
Na Suécia essa questão não se coloca, não há pagamento de pensões em caso de divórcio, também porque há um grande apoio do Estado à infância. Mas é verdade que, em outros países, algumas mães não querem a residência alternada porque perdem direito a essa pensão.
Recomenda a guarda partilhada?
Não faço recomendações ou dou conselhos, sou psicóloga clínica. O que posso dizer é o que tenho concluído das investigações. Nos últimos cinco anos, temos feito estudos com filhos de casais separados e os que têm a residência alternada estão com melhor saúde mental, física e bem-estar do que os que vivem apenas com um dos pais. E, independentemente do tipo de estudos, todos indicam que quem vive apenas com um dos pais está pior: socialmente, fisicamente, a nível escolar, etc.
Em todas as idades?
Sim, estudámos os grupos etários dos 10 aos 18 anos e, mais recentemente, dos 2 aos 5 e tivemos exatamente os mesmos resultados. Algumas vezes, não há diferença entre as crianças com residência alternada e as que estão em famílias que continuam juntas, algumas vezes há diferenças, mas os problemas dos que vivem só com um dos progenitores são muito maiores.
Mesmo quando os divórcios se traduzem posteriormente em relações conflituosas?
O estudo foi efetuado com crianças que residem na Suécia e sabemos que, quando há conflitos, é uma situação extremamente difícil para elas. Não temos conhecimentos suficientes para perceber que, numa situação de conflito, é melhor viver na casa de ambos os pais ou apenas com um. Mas a verdade é que não encontrámos problemas entre essas crianças.
Não se torna complicado ter duas casas, tipos de brinquedos e roupas em duplicado, como muitas vezes acontece?
Exatamente, é o que acaba por acontecer nestas famílias. São dois sistemas familiares que as crianças aceitam e aos quais se adaptam. E é importante que essas crianças tenham os pais próximos.
Qual é a percentagem de crianças em que os pais se divorciam?
Estima-se que 25% a 30% das crianças estejam nessa situação durante toda a sua vida.
Qual é o melhor modelo de residência alternada?
Não sei, talvez com os bebés se pudesse alternar de dois em dois dias ou de três em três, mas nas entrevistas ouvíamos que eram muitas separações. Penso que com as crianças em idade escolar o mais frequente seja de semana em semana.
Quais devem ser as regras para que esses modelos funcionem?
A principal é não prolongar o conflito, é preciso respeitar a criança, ela precisa de ambos os pais. É preciso resguardar as crianças dos conflitos e nunca dizer a tua mãe é isto ou o teu pai é aquilo.
Normalmente, os filhos não comentam o que se passa na casa de um dos pais com o outro progenitor. Verificaram isso?
Sim, acontece mesmo entre as crianças mais pequenas. É uma forma de se protegerem, de salvaguarda.
DN 23-03-2017